O RETRATO DE DORIAN GRAY”: Beleza e Estética.

Oscar Wilde foi debochado, ácido em seus questionamentos, agressivo em seus pensamentos, mas admiro esses espíritos rebeldes que ousam insurgir-se contra a mentalidade dos rebanhos, que faz a todos caminhar pacificamente em uma mesma direção.
Não concordo com ele em muitas coisas, mas sei honrar os corajosos!
Em “O Retrato de Dorian Gray”, ele com seu estilo sem rodeios, toca a questão da influência da beleza física [mais adiante vou tomar um caminho diferente, mas por enquanto tenho de caminhar concordando com ele em nome da honestidade e verdade] como uma realidade social irrefutável!
“A beleza é uma forma de Gênio… diria mesmo que é mais sublime do que o Gênio por não precisar de qualquer explicação. É um dos grandes fatos do mundo, como a luz do sol ou a Primavera, ou o reflexo nas escuras águas dessa concha de prata a que chamamos lua. É inquestionável. Tem um direito de soberania divino. Eleva os seus possuidores à categoria de príncipes. Está a sorrir? Ah, quando a tiver perdido com certeza que não há de sorrir… às vezes as pessoas dizem que a Beleza é apenas superficial, e pode bem ser. Mas pelo menos não é tão superficial como o Pensamento. Para mim, a Beleza é a maravilha das maravilhas.”
Ai está um belo texto, e até diria alguém, inquestionável, honesto, real.
Mas realmente me espanta esse culto ao corpo, sobretudo na  ausência de conteúdos!
O drama oculto na obra de Wilde, esta justamente na impossibilidade de se ter a imortalidade aqui mesmo neste mundo, a eterna juventude, a beleza sem corrupção, a perfeição sem decomposição.
Oscar Wilde é brilhante!
Revela muito da hipocrisia da sociedade de seus dias, e a dura realidade de que ainda que se venda a alma, não se pode manter a beleza para sempre.
Não será um bom recado para nossa sociedade fascinada pelos modelos dionisíacos?
Quantos artistas possuidores unicamente de rostinhos e corpos bonitos caíram no ostracismo e inutilidade, mergulhando na depressão ou cometendo suicídio?
Não pensem, por exemplo, que essa imagem de beleza feminina conforme retratada hoje pela mídia sempre foi assim.
A primeira carta de Pero Vaz de Caminha elogiava a beleza das índias brasileiras, aludindo ao fato de que eram “limpas e gordas”!
De fato a gordura era padrão de beleza em certos estádios da sociedade, porque o ter acesso a boa alimentação – e isso incluía o privilégio do açúcar – era coisa para classes aristocráticas, e contrastava com as mulheres pobres, que eram tidas por feias em sua magreza com costelas expostas...
O grave problema subjacente na descrição do retrato de Dorian Gray é: a decepção que freqüentemente têm aquelas pessoas que se julgam bonitas e se sentem usadas e nunca são felizes no amor.
E por quê?
Talvez porque a beleza seja essa coisa tremendamente atrativa, mas efêmera, que se esgota rapidamente e não oculta nada além de si mesma, enquanto alguém não belo fisicamente pode gradativamente ir revelando encantos e belezas outras, que surpreendem dia a dia!
Perceba a sublimidade dos santos, a aura de mistério que seduz e atrai de forma irresistível.
Veja o encanto e magnetismo na face de um ancião ou a beleza em seu filho ou filha especial aos quais outros vêem com repulsa...
Qual o propósito deste artigo?
É o mesmo de sempre em tudo que escrevo:
Compartilhar com vocês meus temores, lutas, conflitos, ansiedades, frustrações e visões.
Quase todo dia alguém me pergunta: como mudar isso ou aquilo?
Eu não sei, estou como a maioria de vocês em uma posição na qual posso fazer muito pouco.
Mas tenho lutado para fazer o pouco que posso.
Penso que essa cultura ocidental onde a estética e aparência física é o valor máximo, a coisa mais importante é uma barriguinha tanquinho e um rostinho esticado, precisa ser questionada, repensada e discutida!
A alta sociedade perdeu a alma, e as classes baixas governadas pela mídia, os que não gostam de estudar, não buscam compreender como funcionam esses mecanismos de dominação e como estão sendo manipuladas, ficam horas em frente à televisão e comprando revistas para ler acerca da vida dessas pessoas (celebridades) fúteis, vazias, e ainda desejam ser como os tais.
Isso não me atormenta nem tira o sono, só lamento que seja assim: vejam no meio religioso, as tietes dos artistas “gospel” especialmente daqueles que vêm do mundão...
Ofereço aos que me escutam e que estudam meus artigos, uma oportunidade de pensar a vida de outro modo.
Que o mundo e a sociedade vai chegar um dia no qual todos esses modelos que aí estão vigorando esgotar-se-ão, não tenho duvidas.
Talvez muitos de vocês, ainda hão de ver uma sociedade que privilegiará mais o cérebro, talentos e virtudes, do que músculos bundas e peitos.
Não sei se estarei aqui para contemplar essa reviravolta, mas quem viver verá!

Darckson Lira.